Atenção domiciliar: Contando histórias
Mitos, lendas e FATOS do cuidado em domicílio.
A cultura brasileira constitui-se em uma somatória das expressões de outros povos, outras épocas e também de outras regiões, que garantem a esta um modelo único. Único na sua formação, único na sua expressão…
As histórias nos embalam desde sempre… Eternamente nos formam e conformam na tentativa de explicar o inexplicável, de embalar os sonhos, amenizar pesadelos, desculpar culpas, justificar buscas, contemplar conquistas, abafar derrotas…
A vida é sonho, nos afirma Calderon de La Barca. Para Joseph Campbell: dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntima, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. E é disso que se trata [o mito], afinal, e é o que essas pistas nos ajudam a procurar, dentro de nós mesmos. Já para Mircéa Eliad: a recordação é para quem esquece…
Ás histórias da tradição oral indígenas somou-se as portuguesas e africanas em uma composição coletiva, em uma espécie de caleidoscópio. Caleidoscópio este que, apesar de nem tão colorido e nem tão harmonioso, devido à dominação/exploração vigentes, foram capazes de trazer novas nuances às explicações sobre a realidade vivida e/ou imaginada.
Seja através dos mitos, lendas, histórias fantásticas, de cordel, contos ou “causos”, o cotidiano ou o fantástico sempre nos é relatado de forma a se fixar na memória, para fazer sentido, para ter e produzir significado com o intuito de ser propagado e se constituir como história. História de um povo, de um lugar, de um grupo, de uma família, de um indivíduo.
Tão mais conhecida e eterna se tornará quanto mais comum e incomum se tornar… Comum por ser capaz de tocar profundamente a cada um de nós; incomum por ser única no exemplo e na mensagem que revela.
Assim é a assistência domiciliar. Nada é mais cotidiano e comum que o ambiente domiciliar. Mas também nada é mais particular e “incomum” que a casa de cada um de nós.
É nela que construímos nossas histórias que darão sentido às nossas vidas, sejam estas, histórias e vidas, simples ou fantásticas.
Adentrar ao domicílio para qualquer ação é penetrar em um mundo particular permeado de histórias belas e tristes, doces e às vezes, trágicas, comuns e especiais. É passar a fazer parte dessa história, seja como ator ou expectador, seja como narrador ou figurante…
Na história contada por Calderon de La Barca a vida só existe se for compartilhada, do contrário constitui-se somente em sonho particular; sonho que enleva, encanta, mas que enlouquece.
A Caixa de Pandora, mito clássico grego, nos conta como surgiram os infortúnios que acometem a humanidade: as dores, a inveja, a violência, a morte, as doenças, mas também a esperança. E é fundamentalmente disso que trata: porque ainda somos capazes de manter a esperança quando tudo parece ruir ao nosso redor.
José Saramago, no Conto da Ilha Desconhecida nos incita a pensar: tudo já é conhecido? “(…) é deste modo que o destino costuma comportar-se conosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais o que ver, é tudo igual.” Qual o caminho para o desconhecido? Porque percorrê-lo se tudo o mais parece ser conhecido? “(…) é necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios.”
O conhecimento trazido pelas ciências não pretende negar os mitos ou anular as histórias lendárias, mas baseado na eterna dúvida, na imortal curiosidade humana demonstrar que há outras maneiras de conhecer e explicar essa mesma realidade, basta que sejamos capazes de duvidar do que julgamos entender, do que aceitamos como verdade absoluta. Essa outra forma de conhecer os fatos na qual a ciência se baseia pressupõe pesquisas, métodos, teorias; sendo o ambiente domiciliar hoje um profícuo campo de construção de novos saberes.
Mitos, Lendas e FATOS serão contados e ouvidos no CIAD 2012 que se quer, como sempre, constituir-se em uma junção de experiências dos mais diferentes lugares brasileiros; realidade coletiva, assim como é coletiva a nossa história cultural, assim como é coletivo o nosso jeito particular e único de se apropriar das experiências de outros povos dando a estas uma nova leitura, um novo olhar, uma nova maneira de expressar o que aprendemos.
Venha participar do CIAD 2012. Traga sua história de cuidado domiciliar, conte-nos suas histórias de atenção e assistência na casa do outro e ouça as que teremos pra lhes contar…
Colecionamos histórias para reescrever a nossa realidade; colecionamos histórias para aprender com o outro, para ensinar ao outro; colecionamos histórias no intuito de provarmos, pra nós mesmos e para os demais que nos rodeiam, o quanto somos “comuns” e ao mesmo tempo, o quanto somos únicos.